Neste ano, o Domingo de Páscoa coincide com o Dia Nacional de Luta pela Reforma Agrária, 17 de abril. Para falar sobre o sentidos deste dia, tão simbólico, a CPT Goiás convidou Dom Jeová Elias, bispo da Diocese de Goiás, para uma pequena entrevista. Leia na integra, abaixo:
Neste ano, o Domingo de Páscoa coincide com o Dia Nacional de Luta pela Reforma Agrária, 17 de abril. Para falar sobre o sentidos deste dia, tão simbólico, a CPT Goiás convidou Dom Jeová Elias, bispo da Diocese de Goiás, para uma pequena entrevista e para nos trazer uma mensagem
1. Qual é a importância da reforma Agrária para uma mensagem de Páscoa que evoque o cuidado com a Vida?
A palavra Páscoa, na Biblia, recorda a história bonita de nossos Pais na Fé, que fizeram uma caminhada de libertação, da saída de uma vida sofrida, da escravidão para a terra prometida. Páscoa é passagem: é saída de uma condição de vida indigna para a liberdade dos filhos e filhas de deus, para uma vida digna. Claro que a promessa de Deus a seu povo é uma promessa de descendência, é a promessa de terra. Uma terra para morar, para viver, para trabalhar, para produzir, para celebrar a fé, para construir a história dos filhos e filhas de deus em comunhão na terra e a alegria de poder colher os frutos da terra como consequência do trabalho e como dom de um deus bondoso.
Em Jesus Cristo, celebramos a passagem da morte para a vida, a vitória sobre a morte, tudo aquilo que representa morte. A páscoa de jesus nos dá força para lutar em favor da vida digna e combater aquilo que causa morte em seu povo, mas com olhar para frente, com aquilo que nos aguarda, a verdadeira terra prometida que começa aqui e se planifica na eternidade, junto do filho querido, do pai amoroso e o espírito consolador e confortador. Nós caminhamos, nos esforçando, mas sabendo que o senhor caminha com seu povo e nos ajuda a fazer essa passagem para essa vida plena e digna com os filhos e filhas de Deus.
O “Documento de Aparecida” diz que é um sofrimento para a pessoa do campo não ter acesso à própria terra, enquanto grandes latifúndios estão concentrados em poucas mãos. E nossa América Latina e Caribe tem a pior distribuição de terra do planeta. Mais da metade das terras produtivas está concentrada nas mãos de 1% das propriedades.
A doutrina social da igreja diz que é indispensável em alguns países a redistribuição de terras no âmbito das políticas eficazes de reforma agrária para superar o impedimento do latifúndio improdutivo ao verdadeiro desenvolvimento econômico. Claro que não basta distribuir a terra, também é ensinado pela doutrina social da igreja que é preciso dar os meios necessários para que àquele que a recebe possa produzir. Os créditos, a formação, o suporte material e de orientação técnica para que a terra possa se traduzir também numa fonte de renda e de sobrevivencia digna para a pessoa. A doutrina da igreja ensina também que a reforma agrária, além de uma necessidade política, é uma obrigação moral.
2. Como este momento da páscoa se relaciona com o Cuidado da Casa Comum e a relação fraterna entre as pessoas, a que nos conclama Papa Francisco?
No primeiro Encontro Mundial com os Movimentos Sociais, o Papa Francisco pronunciou o famoso discurso sobre a importância dos três Ts: a Terra, o Teto e o Trabalho. Sem terra, sem casa, não temos um lugar de onde partir e aonde chegar. E sem trabalho não temos condição de nos manter. E dizia o Papa: “Nenhuma família sem casa! Nenhum Camponês sem terra! Nenhum trabalhador sem direitos! Nenhuma pessoa sem a dignidade que provem do trabalho!” Esses três Ts, para o Papa Francisco, são direitos sagrados. A terra, desde o início da criação, Deus a fez e colocou o homem como guardião da sua obra com encardo de cultivá-la e protegê-la. Então, a destruição, a monopolização das terras, a apropriação da água, os pesticidas, tudo isso, como diz o Papa francisco, é inadequado, são alguns dos males que arrancam o homem da sua terra. Penso que dos três Ts, a terra seja central porque tendo a terra, pode construir a casa e tendo a terra também pode cultivá-la e fazê-la produzir trabalhando, derramando o suor do próprio rosto e ganhando o pão com dignidade.
3. Neste contexto, qual mensagem de Páscoa o senhor deixa para o Povo de Deus, do campo e da cidade?
A Páscoa deve renovar a nossa esperança. A mensagem que eu deixo é uma mensagem de esperança. Vivemos tempos difíceis, tempos sofridos, seja no contexto sociopolitico, socioeconômico, sociocultural. E sobretudo nos últimos tempos, intensificadas essas dificuldades com a pandemia que estamos ainda atravessando. Muitos são tentados a desanimar, a desistir, a se desesperançar. Mas a ressurreição de Jesus renova nossa esperança, nos diz que nós não fomos feitos para a morte. Nos dá também força para lutar, nos encoraja, nos fortalece, nos anima, nos ajuda a não entregar os pontos. Minha mensagem é de esperança, para que nos recuperemos o ânimo, a força e o vigor, movimentos pela vitória de Jesus sobre a morte e tudo aquilo que representa a morte. E concluo com a palavra bonita do Papa Francisco, na Evangelii Galdia n.3. “Não fujamos da ressurreição de Jesus. Nunca nos demos por mortos. Suceda o que suceder. Que nada possa mais do que a vida que nos impele para adiante”. Deixo um abraço carinhoso para cada um e cada uma do campo e da cidade, e todos aqueles que estão envolvidos na luta pela dignidade do ser humano. E formulo os votos de uma Santa e abençoada páscoa para todos, com suas famílias, seus amigos e pessoas de seu convívio.