Na atividade, que reuniu milhares de pessoas nas ruas de Catalão (GO), comunidades camponesas denunciaram o impacto negativo da mineração na região e compartilham o êxito das experiências de resistência na terra. Bispos e movimentos alertaram para a necessidade de consciência sobre as questões sócio-ambientais.
Milhares de Romeiras e Romeiros participaram da 17ª Romaria da Terra e das Águas, na cidade de Catalão (GO), durante o sábado, dia 3 de junho. Paróquias locais e da região, movimentos e comunidades do campo compuseram a atividade, onde estiveram presentes o bispo da diocese anfitriã, Diocese de Ipameri, Dom Francisco, o bispo da Diocese de Goiás e referencial da CPT Goiás na CNBB, Dom Jeová Elias, o bispo da Diocese de São Luis de Montes Belos, Dom Lindomar Rocha Mota, o bispo da Diocese de Rubiataba e Mozarlândia, Dom Francisco Agamenilton e o presidente da CNBB-Centro Oeste, Dom Waldemar Passini Dalbello.
A concentração para a caminhada foi realizada em frente à nova Matriz da cidade, Paróquia de São Francisco de Assis. Lá, as caravanas que vieram de várias partes do estado e do Distrito Federal foram acolhidas calorosamente, todos que chegaram puderam se alimentar, assistir as primeiras apresentações culturais do dia e visitar a Tenda da Educação, onde crianças e jovens da região expuseram trabalhos inspirados no tema da 17ª Romaria.
Na abertura da atividade, o bispo diocesano Dom Francisco falou sobre o tema que orientou a romaria, Cuidar da Casa Comum, por uma cultura ecológica integral:
“A Igreja ao celebrar este momento, chama atenção de toda a comunidade para os problemas maiores que vivemos. O Santo Papa Francisco, ao nos brindar com a Laudato Sì, nos chama atenção para problemas que rondam a sociedade, sobretudo o aquecimento global, pelo descuido com a natureza. Se continuar assim, infelizmente, um futuro próximo deixará para a humanidade um saldo negativo, que pode tornar impossível a humanidade sobreviver. Há certas situações que são maiores, que dizem respeito ao que os politicos das nações podem fazer acontecer, mas se não tomarmos consciência, acabamos aplaudindo ações que não são boas“, alertou Dom Francisco.
Em depoimentos, comunidades rurais locais e de outros municípios da Diocese de Ipameri compartilharam denúncias sobre os impactos negativos da mineração sobre suas vidas. Carla Oliveira, da comunidade Macaúba, falou sobre o processo de resistência na terra por sua família, que teve a posse de sua terra tomada judicialmente pela mineradora Mosaic.
Com muita luta e organização, a família conseguiu que a empresa reconhecesse o seu direito a uma indenização justa pela terra. “Nós chegamos a um ponto aqui em Catalão que a gente teve que se unir e percebemos que juntos nós conseguimos manter a esperança de alcançar a justiça”, disse Carla, que hoje acompanha famílias de outras comunidades que buscam direitos negados pelas mineradoras.
Representantes dos Acampamentos Ana Ferreira e Oziel Alves Pereira, do MST, e da comunidade de pequenos proprietários da Vala do Rio do Peixe compartilharam também experiências resistência na terra e de práticas agroecológicas de produção de alimentos sem veneno, nas lavouras comunitárias apoiadas pela CPT Goiás, e de recuperação de nascentes.
Simone Oliveira, da coordenação colegiada da CPT Goiás, diz que “a Romaria da Terra e das Águas cumpre seu papel, quando nos ajuda a gente a conversar sobre os diversos conflitos presentes na diocese, refletindo sobre essa integralidade na cultura ecológica enquanto possibilidades de transformações, tanto nas lutas por políticas ambientais de proteção à terra e às águas, quando nas mudanças pessoais em nossos hábitos”.
Caminho de Emaús
A caminhada também foi um momento de fortes reflexões, que culminaram, na Praça Marca Tempo, com a apresentação teatral “Caminho de Emaús”, com encenação da passagem bíblica e partilha real do alimento, entre todos os participantes. “O caminho de Emaús nos ajuda a olhar para esse caminho rumo à Casa Comum. A transformação começa comigo, com a minha ação, e isso Jesus nos mostra de forma exemplar”, diz Simone Oliveira.
A Chamada dos Mártires, momento emocionante de memória dos agentes pastorais, religiosos e religiosas que perderam suas vidas na defesa dos direitos dos trabalhadores e trabalhadoras do campo, foi encerrada com uma homenagem às vítimas do COVID-19, simbolizadas pela presença do violão do agente e animador da CPT Goiás, Romerson Alves, que faleceu em 16 abril de 2021, sem ter a chance de se vacinar.
A caminhada terminou na praça da Igreja Nossa Senhora do Rosário, onde foi montada estrutura para realização de Missa Campal. Com a participação dos cinco bispo presentes e dos párocos da região, a Celebração da Eucaristia foi encerrada com a entrega da cabaça simbólica da Romaria da Terra e das Águas para Dom Lindomar Rocha Mota, bispo da Diocese de São Luis de Montes Belos, que irá sediar a próxima edição do evento.