Em 2022, Goiás teve aumento de mais de 20% nos registros de violência relaciona à posse da terra e de 300% no número de pessoas ameaçadas de morte. O estado segue sendo o segundo estado com mais trabalhadores resgatados do trabalho análogo à escravidão.
Por CPT Goiás / com informações da CPT Nacional.
Na manhã desta segunda-feira, 17, a Comissão Pastoral da Terra (CPT) lançou a publicação Conflitos no Campo Brasil 2022, em seminário realizado no Auditório Esperança Garcia, na Faculdade de Direito da Universidade de Brasília (UnB). O livro apresenta dados dos conflitos no campo registrados pelo Centro de Documentação Dom Tomás Balduino, da CPT, no último ano, além de artigos de pesquisadores(as) convidados(as). A atividade é realizada no Dia Nacional de Luta pela Reforma Agrária, Dia Internacional da Luta Camponesa e na data em que se completam 27 anos do massacre do Eldorado dos Carajás.
A publicação traz os registros do ano de 2022 nas 26 unidades da federação do Brasil e do Distrito Federal e tabelas comparativas que mostram a evolução dos dados ao longo dos anos e possíveis relações entre as diferentes formas de conflito e violência. Em todo o país, foram registradas 2.018 ocorrências, envolvendo 909.450 pessoas e 80.165.951 hectares de terra em disputa em todo o território nacional, o que corresponde à escandalosa média de um conflito a cada quatro horas. Esses números indicam um incremento de 10,39% em relação ao ano anterior, quando houve o registro de
1.828 ocorrências.
Entre os números do estado de Goiás, chama a atenção o aumento no número registrado de registros de violência relacionada à posse da terra. Em 2022, foram 58 registros de violência contra a ocupação e a posse, um aumento de 20,68% em relação aos registros de 2021, quando foram registrados 46 conflitos. Este foi o quinto ano consecutivo de aumento no número de conflitos no campo em Goiás.
Outros dados alarmantes estão relacionados aos conflitos trabalhistas no campo. Foram 258 trabalhadores resgatados de condições análogas à escravidão em 2022, em 15 ocorrências. Em 2021 foram 302 resgatados em 17 ocorrências. Apesar da redução nos números totais, Goiás segue sendo o segundo estado em número de resgatados e sobiu para o segundo lugar em número de ocorrências – em 2021 era o terceiro colocado. Os registros dos três primeiros meses de 2023, colocam Goiás em primeiro lugar em número de pessoas resgatadas: foram 365 pessoas libertadas do trabalho análogo à escravidão entre janeiro e março.
Em 2022, nenhuma pessoa foi assassinada no campo em conflitos por terra, água e em conflitos trabalhistas em Goiás, o que pode ser compreendido como uma vitória dos movimentos populares e entidades de luta por direitos humanos da população do campo, visto que 6 pessoas registraram ameaça de morte no último ano, três vezes mais do que em 2021. Em 2022 uma pessoa morreu em consequência de conflitos, uma presa, uma torturada, duas agredidas. Em 2021, foram registradas 2 ameaças de morte, 1 tentativa de assassinato e 1 assassinato entre os 73 conflitos registrados no campo em Goiás
Foto: Letícia De Maceno