CPT Goiás
Nossa história
A Comissão Pastoral da Terra (CPT), é um organismo pastoral vinculado à Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB), organizada em 21 regionais distribuídas em todas as regiões do Brasil. Criada em 1975 em nível nacional e em 1976 no Estado de Goiás, tendo o seu CNPJ registrado em 1980, ela nasce em um contexto extremamente delicado da história brasileira, marcado pela violação de direitos e pela privação de liberdade que buscava calar a voz do povo que ousava gritar por democracia e se opor ao regime autoritário militar que se instalou no país após o golpe de Estado ocorrido em 1964.
Em comunhão com a igreja, a CPT Goiás atuou com firmeza denunciando a violência contra as famílias camponesas, padres, religiosos, religiosas, agentes pastorais e lideranças populares em geral, que foram assassinadas e perseguidas por defender comunidades que se organizavam para exigir o cumprimento da lei brasileira e para que elas pudessem ter o acesso à terra ou permanecer na terra para nela trabalhar, produzir e prover o seu sustento.
Buscando valorizar a vida e a dignidade das pessoas que vivem no campo, a CPT Goiás têm sido uma referência na defesa dos direitos da pessoa humana, seguindo a orientação do Papa Francisco, de “Nenhuma família sem casa, nenhum camponês sem terra e nenhum trabalhador sem direitos”, assim como no cuidado da nossa Casa Comum e na defesa e incentivo de práticas agroecológicas voltadas para a diversificação da produção e de autonomia produtiva (soberania alimentar), visando assegurar a segurança alimentar e nutricional, além de buscar garantir o acesso a água, com a recuperação de nascentes e as articulações de defesa do cerrado.
Missão
A CPT foi criada para ser um serviço à causa dos trabalhadores e trabalhadoras do campo e de ser um suporte para a sua organização. Assim, a CPT Goiás realiza o acompanhamento às comunidades a partir dos princípios de Fé e Justiça, de forma que a mulher e o homem camponês sejam protagonistas de sua própria história.
Convocada pela memória subversiva do evangelho da vida e da esperança, fiel ao Deus dos pobres, à terra de Deus e aos pobres da terra, ouvindo o clamor que vem dos campos e florestas e seguindo a prática de Jesus, a missão da CPT Goiás é buscar ser uma presença solidária, profética, ecumênica, fraterna e afetiva, que presta um serviço educativo e transformador junto aos povos da terra e das águas; por meio de seu acompanhamento e assessoria, promover a superação da violência e a garantia de direitos.
A CPT reafirma seu caráter pastoral e retoma, com novo vigor, o trabalho de base junto aos povos da terra e das águas, em convivência, promoção, apoio, acompanhamento e assessoria:
1 – Nos seus processos coletivos: De conquista dos direitos e da terra, de resistência na terra; de produção sustentável (familiar, ecológica, apropriada às diversidades regionais).
2 – Nos seus processos de formação integral e permanente: A partir das experiências e no esforço de sistematizá-las; com forte acento nas motivações e valores, na mística e espiritualidade;
3 – Na divulgação de suas vitórias e no combate das injustiças: Sempre contribuindo para articular as iniciativas dos povos da terra e das águas e buscando envolver toda a comunidade cristã e a sociedade, na luta pela terra e na terra; no rumo da “terra sem males”.
Nossa Organização
A CPT Goiás atua por meio de Equipes de Base, formadas por agentes pastorais e membros voluntários da organização, que atuam junto a Comunidades Acompanhadas. As tomadas de decisão, planejamentos e acompanhamentos dos trabalhos são feitos por representantes desses grupos em reuniões do Conselho Regional, juntamente com a Coordenação Colegiada Executiva Regional, que é eleita em Assembléia Geral.
A Assembleia Geral da CPT Goiás, instância maior de organização, tem a participação de representantes de comunidades, do conselho regional, de agentes pastorais das equipes de base, da coordenação colegiada executiva, pelo bispo referencial responsável por acompanhar os trabalhos da CPT no regional Centro-Oeste da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB) e outros convidados.
São membros da CPT Goiás todas as pessoas que atuam ativa e diretamente na pastoral em favor dos camponeses e camponesas que manifestem a disposição de vincular-se à entidade como agente pastoral (voluntário ou contratado) e que sejam devidamente reconhecidos pelo conselho, além de participarem das atividades e das instâncias da CPT/GO.
Contribuímos no fortalecimento das comunidades camponesas com a realização de diversas atividades de formação em conjunto com as famílias e suas organizações coletivas.
Para o período 2021 – 2024, a CPT Goiás definiu quatro eixos prioritários de atuação, para enfrentamento e superação de desafios que se apresentam hoje no campo:
Nossos Mártires
Ao longo dos tempos, sempre tivemos mártires que perderam sua vida por suas convicções religiosas, pela liberdade de seu povo, ou mesmo ofereceram-na para salvar a vida de outras pessoas. Recentemente, surgiram também aqueles que arriscam suas vidas em favor da ecologia, do jardim de Deus. Numa sociedade carente de gestos proféticos, cada vez mais alienada, resignada e sem convicções mais profundas, recordar a vida dessas pessoas contribui para iluminar a caminhada de fé das nossas comunidades e, porque não, da nossa Igreja. Para isso, a CPT Goiás realiza, ao longo de sua história a Romaria dos Mártires.
Disponibilizamos aqui a publicação “Martírio, Profecia e Resistência”, organizada pela CPT Goiás em 2009 para o Dia Nacional de Formação, que traz uma reflexão sobre a relação da Comissão Pastoral da Terra com as Lutas Camponesas a partir de estudos bíblicos, fazendo memória àqueles que, por sua determinação, dedicaram a vida em prol da causa do próximo. São nossos mártires:
- Nativo da Natividade de Oliveira - Data do Martírio - 23.10.1985
- Sebastião Roda da Paz - Data do Martírio - 28.08.1984
- Vilmar de Castro - Data do Martírio - 23.10.1986
- Pe. Josimo Tavares - Data do Martírio - 10.05.1986
- Pe. Francisco Cavazutti (Pe. Chicão) - Data do Martírio - 19.09.1987
- Luiz Antônio Ório - Data do Martírio - 10.03.1983
- Benedito Ferraz da Silva - Data do Martírio - 11.08.1982
- Floriano Cardoso da Silva - Data do Martírio - 31.01.2006
Conheça a história de nossos mártires
Romarias
Romaria das Terras e das Águas
Na Igreja as Romarias iniciam ainda no Antigo Testamento, quando Moisés é convidado a retirar o povo de Deus do Egito e seguir em caminhada até à Terra Prometida, onde corre leite e mel. No Novo Testamento é Jesus de Nazaré quem conduz o povo em Romaria pelas ruas de Jerusalém, cobrando direitos e anunciando a Boa nova do Senhor aos empobrecidos da terra.
Na Igreja Católica brasileira várias Romarias são realizadas: Romaria de Bom Senhor do Bonfim, Romara de Bom Jesus da Lapa, Romaria de Padre Cícero, Romaria de Trindade, Romaria de Aparecida, Romaria de Muquém, todas estas com caráter de profunda piedade nos templos que carregam história, marcada por muita fé nos Santos e em Deus. Já as Romarias da Terra e das Águas, sem perder o elemento da fé, da religiosidade, se encarregam também de celebrar os dons criados por Deus e ofertados a todas as criaturas, se encarregam de celebrar o processo de organização de nosso povo e demonstrar a esperança que deriva da luta social e política de nosso povo.
As Romarias são momentos de alegria e de fazer a memória coletiva da luta do povo, que experienciou a resistência em diversos momento e obteve conquistas e direitos que são para todos. A organização de luta sempre esteve presente na defesa dos indígenas, no processo de libertação dos negros, das mulheres, das minorias étnicas, sempre buscando a justiça social. Estar em romaria significa expressar e fazer memória das conquistas que foram sendo cumuladas historicamente, dando voz e vez ao povo que “não deixa ser enganado”.
Da 1ª a 5ª Romaria, foram em Trindade – GO. Inspirados e inspiradas pelos lemas:
1ª – 1984 – A Reforma Agrária será obra dos trabalhadores.
2ª – 1985 – Sobre a Terra o povo avança.
3ª – 1986 – Só tenho terra debaixo da unha.
4ª – 1989 – Na luta do povo a conquista da terra.
5ª – 1991 – Terra e Trabalho – Vida para todos.
6 ª– 1993 – Goiás – GO: Terra, Vida e Moradia Juntam o Povo em Romaria.
7ª– 1995 – Rubiataba – GO: Na Terra Conquistada a Dignidade Resgatada.
8ª- 1997 – São Luis de Montes Belos – GO: Com ardor do Jubileu 2000 a Terra no Brasil, Terra de Deus Direito dos Trabalhadores.
9ª – 1999 – Trindade – GO: 500 Anos de Resistência e Luta pela Terra e Pela Vida – Justiça, Terra e Trabalho.
10ª – 2001– Itaberaí – GO: Conquistar, Preservar e Partilhar, Agricultura Familiar, Política a favor da Vida.
11ª – 2003 – Mineiros – GO: A Romaria torna-se também Romaria das Águas – e o tema foi: Gerando Vida e Partilhando o Pão.
12ª – 2005 – Ipameri – GO: Terra e Água: Presente de Deus, Direito Humano.
13ª – 2008 – Planaltina – GO: Terra e água Fonte de Vida – “Deus Viu que Tudo era Bom”.
14ª – 2010- Anicuns – GO – Povos do Cerrado, soberania em defesa da vida –“Tomou pois, o Senhor Deus o homem e a mulher e os colocou no Jardim de Éden para o cultivar e guardar”.
15ª – 2013 – Goianésia – GO: Cerrado e Sustentabilidade – “Vi então, um novo céu e uma nova terra”.
Romaria dos Mártires
As mudanças pelas quais o mundo e a nossa região passam – as novas formas de comunicação, as tecnologias e as mudanças constantes no mercado – levam as novas gerações e os novos atores cristãos a abandonar a história de luta da igreja. Para que esta memória permaneça viva, são fundamentais a constante formação pastoral e os momentos de reunião amplos, onde se possa demonstrar que o martírio não é apenas parte do passado, mas é parte da caminhada deste povo de Goiás.
A Romaria dos Mártires é um momento forte, um espaço privilegiado de formação, de partilha, de conscientização sobre a realidade da Reforma Agrária, da preservação do meio-ambiente e a lembrança dos mártires da caminhada da diocese, uma manifestação de fé e de compromisso que reúne, dois a três mil trabalhadores do campo e da cidade, excluídos da sociedade moderna. Resgatando sua identidade cultural, eles discutem um tema comum e reforçam a luta para uma modificação profunda da realidade social em que vivem, particularmente no meio rural.
Única do gênero realizada no Estado de Goiás, tem entre seus Mártires o sindicalista Nativo da Natividade e o Pe Chicão, nosso mártir vivo, alvejado com um tiro de espingarda e, desde então, cego dos dois olhos.
Histórico da Romaria dos Mártires – Goiás
1ª – 1997 – Realizada na cidade de Mossâmedes, no mesmo local que o Pe. Chicão sofreu o atentado contra sua vida. Naquela Romaria foram lançadas músicas com a temática da Romaria. O Tema era “Aqui as forças da morte não venceram a Vida” e uma placa com esse dizer foi colocada no local. A concentração e o início da Romaria se deu na entrada da cidade de Mossâmedes e depois os 3.000 (três mil) romeiros saíram em caminhada com destino a uma propriedade do meio rural, a 7 km da cidade, onde o Pe. Chicão em 1987 recebeu os tiros em seu rosto. Neste local foi dado continuação a celebração e as apresentações culturais.
2ª – 2002 – aconteceu em agosto, também da Cidade de Mossâmedes, teve como tema “O Sangue dos Mártires Clama por Justiça”, contou novamente com a participação de aproximadamente 3.000 romeiros. A novidade foi que a concentração e a celebração inicial foram no local onde o Pe. Chico sofreu o atentado. Depois os romeiros saíram em caminhada para o centro da cidade, onde se deu prosseguimento à celebração e às apresentações culturais. É bom destacar que nesta Romaria, além do depoimento do Pe. Chicão, pudemos também ouvir os depoimentos das viúvas de Sebastião Rosa da Paz (sindicalista assassinado) e de Nativo da Natividade (sindicalista assassinado).
3ª – 2007 – realizada em 1º de setembro, mantendo a periodicidade do evento, na Cidade de Mossâmedes, e teve como tema “Vidas Pelo Reino e Missão neste chão”, com participação de mais de 3.000 pessoas. Foi o momento de despedida do Pe. Chicão (nosso mártir vivo), por conta de sua volta para a Itália.
4ª – 2010 – realizada em 23 de outubro, na Cidade de Carmo do Rio Verde, em memória dos 25 anos do martírio de Nativo da Natividade, junto com a realização do Dia Nacional da Juventude. Com o tema “O sangue dos Mártires fez a semente se espalhar”, a Romaria teve a participação de 5 mil pessoas. Se iniciou na praça da Matriz, e seguiu pelas ruas num forte momento celebrativo, até a praça ao lado do Sindicato dos Trabalhadores Rurais, onde Nativo foi morto, ali foi realizado o momento final da Romaria. Em seguida, o cantor Zé Vicente fez um show.
A Quinta Romaria dos Mártires seria realizada no município de Mossâmedes, em agosto de 2020, em memória aos 32 anos do martírio do Padre Chicão e 35 anos do martírio de Nativo da Natividade. A definição da Romaria dos Mártires se deu em novembro de 2019, durante a realização da Coordenação Diocesana de Pastoral (que reúne padres, freiras, agentes de pastoral e leigos das diversas comunidades), mas a atividade não foi realizada devido à pandemia de COVID-19.
Diante de tantos desafios atuais, da guinada conservadora nos espaços de poder oficiais e do grande número de assassinatos de camponeses, indígenas e líderes de movimentos sociais em todo país, a Romaria dos Mártires mostra-se atual, pois é espaço de denúncia e anúncio, uma caminhada que guarda as marcas de sangue dos nossos mártires de ontem e de hoje.
Nossa história
A Comissão Pastoral da Terra (CPT), é um organismo pastoral vinculado à Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB), organizada em 21 regionais distribuídas em todas as regiões do Brasil. Criada em 1975 em nível nacional e em 1976 no Estado de Goiás, tendo o seu CNPJ registrado em 1980, ela nasce em um contexto extremamente delicado da história brasileira, marcado pela violação de direitos e pela privação de liberdade que buscava calar a voz do povo que ousava gritar por democracia e se opor ao regime autoritário militar que se instalou no país após o golpe de Estado ocorrido em 1964.
Em comunhão com a igreja, a CPT Goiás atuou com firmeza denunciando a violência contra as famílias camponesas, padres, religiosos, religiosas, agentes pastorais e lideranças populares em geral, que foram assassinadas e perseguidas por defender comunidades que se organizavam para exigir o cumprimento da lei brasileira e para que elas pudessem ter o acesso à terra ou permanecer na terra para nela trabalhar, produzir e prover o seu sustento.
Buscando valorizar a vida e a dignidade das pessoas que vivem no campo, a CPT Goiás têm sido uma referência na defesa dos direitos da pessoa humana, seguindo a orientação do Papa Francisco, de “Nenhuma família sem casa, nenhum camponês sem terra e nenhum trabalhador sem direitos”, assim como no cuidado da nossa Casa Comum e na defesa e incentivo de práticas agroecológicas voltadas para a diversificação da produção e de autonomia produtiva (soberania alimentar), visando assegurar a segurança alimentar e nutricional, além de buscar garantir o acesso a água, com a recuperação de nascentes e as articulações de defesa do cerrado.
Missão
A CPT foi criada para ser um serviço à causa dos trabalhadores e trabalhadoras do campo e de ser um suporte para a sua organização. Assim, a CPT Goiás realiza o acompanhamento às comunidades a partir dos princípios de Fé e Justiça, de forma que a mulher e o homem camponês sejam protagonistas de sua própria história.
Convocada pela memória subversiva do evangelho da vida e da esperança, fiel ao Deus dos pobres, à terra de Deus e aos pobres da terra, ouvindo o clamor que vem dos campos e florestas e seguindo a prática de Jesus, a missão da CPT Goiás é buscar ser uma presença solidária, profética, ecumênica, fraterna e afetiva, que presta um serviço educativo e transformador junto aos povos da terra e das águas; por meio de seu acompanhamento e assessoria, promover a superação da violência e a garantia de direitos.
A CPT reafirma seu caráter pastoral e retoma, com novo vigor, o trabalho de base junto aos povos da terra e das águas, em convivência, promoção, apoio, acompanhamento e assessoria:
1 – Nos seus processos coletivos: De conquista dos direitos e da terra, de resistência na terra; de produção sustentável (familiar, ecológica, apropriada às diversidades regionais).
2 – Nos seus processos de formação integral e permanente: A partir das experiências e no esforço de sistematizá-las; com forte acento nas motivações e valores, na mística e espiritualidade;
3 – Na divulgação de suas vitórias e no combate das injustiças: Sempre contribuindo para articular as iniciativas dos povos da terra e das águas e buscando envolver toda a comunidade cristã e a sociedade, na luta pela terra e na terra; no rumo da “terra sem males”.
Nossa Organização
A CPT Goiás atua por meio de Equipes de Base, formadas por agentes pastorais e membros voluntários da organização, que atuam junto a Comunidades Acompanhadas. As tomadas de decisão, planejamentos e acompanhamentos dos trabalhos são feitos por representantes desses grupos em reuniões do Conselho Regional, juntamente com a Coordenação Colegiada Executiva Regional, que é eleita em Assembléia Geral.
A Assembleia Geral da CPT Goiás, instância maior de organização, tem a participação de representantes de comunidades, do conselho regional, de agentes pastorais das equipes de base, da coordenação colegiada executiva, pelo bispo referencial responsável por acompanhar os trabalhos da CPT no regional Centro-Oeste da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB) e outros convidados.
São membros da CPT Goiás todas as pessoas que atuam ativa e diretamente na pastoral em favor dos camponeses e camponesas que manifestem a disposição de vincular-se à entidade como agente pastoral (voluntário ou contratado) e que sejam devidamente reconhecidos pelo conselho, além de participarem das atividades e das instâncias da CPT/GO.
Contribuímos no fortalecimento das comunidades camponesas com a realização de diversas atividades de formação em conjunto com as famílias e suas organizações coletivas.
Para o período 2021 – 2024, a CPT Goiás definiu quatro eixos prioritários de atuação, para enfrentamento e superação de desafios que se apresentam hoje no campo:
Nossos Mártires
Ao longo dos tempos, sempre tivemos mártires que perderam sua vida por suas convicções religiosas, pela liberdade de seu povo, ou mesmo ofereceram-na para salvar a vida de outras pessoas. Recentemente, surgiram também aqueles que arriscam suas vidas em favor da ecologia, do jardim de Deus. Numa sociedade carente de gestos proféticos, cada vez mais alienada, resignada e sem convicções mais profundas, recordar a vida dessas pessoas contribui para iluminar a caminhada de fé das nossas comunidades e, porque não, da nossa Igreja. Para isso, a CPT Goiás realiza, ao longo de sua história a Romaria dos Mártires.
Disponibilizamos aqui a publicação “Martírio, Profecia e Resistência”, organizada pela CPT Goiás em 2009 para o Dia Nacional de Formação, que traz uma reflexão sobre a relação da Comissão Pastoral da Terra com as Lutas Camponesas a partir de estudos bíblicos, fazendo memória àqueles que, por sua determinação, dedicaram a vida em prol da causa do próximo. São nossos mártires:
- Nativo da Natividade de Oliveira - Data do Martírio - 23.10.1985
- Sebastião Roda da Paz - Data do Martírio - 28.08.1984
- Vilmar de Castro - Data do Martírio - 23.10.1986
- Pe. Josimo Tavares - Data do Martírio - 10.05.1986
- Pe. Francisco Cavazutti (Pe. Chicão) - Data do Martírio - 19.09.1987
- Luiz Antônio Ório - Data do Martírio - 10.03.1983
- Benedito Ferraz da Silva - Data do Martírio - 11.08.1982
- Floriano Cardoso da Silva - Data do Martírio - 31.01.2006
Conheça a história de nossos mártires
Romarias
Romaria das Terras e das Águas
Na Igreja as Romarias iniciam ainda no Antigo Testamento, quando Moisés é convidado a retirar o povo de Deus do Egito e seguir em caminhada até à Terra Prometida, onde corre leite e mel. No Novo Testamento é Jesus de Nazaré quem conduz o povo em Romaria pelas ruas de Jerusalém, cobrando direitos e anunciando a Boa nova do Senhor aos empobrecidos da terra.
Na Igreja Católica brasileira várias Romarias são realizadas: Romaria de Bom Senhor do Bonfim, Romara de Bom Jesus da Lapa, Romaria de Padre Cícero, Romaria de Trindade, Romaria de Aparecida, Romaria de Muquém, todas estas com caráter de profunda piedade nos templos que carregam história, marcada por muita fé nos Santos e em Deus. Já as Romarias da Terra e das Águas, sem perder o elemento da fé, da religiosidade, se encarregam também de celebrar os dons criados por Deus e ofertados a todas as criaturas, se encarregam de celebrar o processo de organização de nosso povo e demonstrar a esperança que deriva da luta social e política de nosso povo.
As Romarias são momentos de alegria e de fazer a memória coletiva da luta do povo, que experienciou a resistência em diversos momento e obteve conquistas e direitos que são para todos. A organização de luta sempre esteve presente na defesa dos indígenas, no processo de libertação dos negros, das mulheres, das minorias étnicas, sempre buscando a justiça social. Estar em romaria significa expressar e fazer memória das conquistas que foram sendo cumuladas historicamente, dando voz e vez ao povo que “não deixa ser enganado”.
Da 1ª a 5ª Romaria, foram em Trindade – GO. Inspirados e inspiradas pelos lemas:
1ª – 1984 – A Reforma Agrária será obra dos trabalhadores.
2ª – 1985 – Sobre a Terra o povo avança.
3ª – 1986 – Só tenho terra debaixo da unha.
4ª – 1989 – Na luta do povo a conquista da terra.
5ª – 1991 – Terra e Trabalho – Vida para todos.
6 ª– 1993 – Goiás – GO: Terra, Vida e Moradia Juntam o Povo em Romaria.
7ª– 1995 – Rubiataba – GO: Na Terra Conquistada a Dignidade Resgatada.
8ª- 1997 – São Luis de Montes Belos – GO: Com ardor do Jubileu 2000 a Terra no Brasil, Terra de Deus Direito dos Trabalhadores.
9ª – 1999 – Trindade – GO: 500 Anos de Resistência e Luta pela Terra e Pela Vida – Justiça, Terra e Trabalho.
10ª – 2001– Itaberaí – GO: Conquistar, Preservar e Partilhar, Agricultura Familiar, Política a favor da Vida.
11ª – 2003 – Mineiros – GO: A Romaria torna-se também Romaria das Águas – e o tema foi: Gerando Vida e Partilhando o Pão.
12ª – 2005 – Ipameri – GO: Terra e Água: Presente de Deus, Direito Humano.
13ª – 2008 – Planaltina – GO: Terra e água Fonte de Vida – “Deus Viu que Tudo era Bom”.
14ª – 2010- Anicuns – GO – Povos do Cerrado, soberania em defesa da vida –“Tomou pois, o Senhor Deus o homem e a mulher e os colocou no Jardim de Éden para o cultivar e guardar”.
15ª – 2013 – Goianésia – GO: Cerrado e Sustentabilidade – “Vi então, um novo céu e uma nova terra”.
Romaria dos Mártires
As mudanças pelas quais o mundo e a nossa região passam – as novas formas de comunicação, as tecnologias e as mudanças constantes no mercado – levam as novas gerações e os novos atores cristãos a abandonar a história de luta da igreja. Para que esta memória permaneça viva, são fundamentais a constante formação pastoral e os momentos de reunião amplos, onde se possa demonstrar que o martírio não é apenas parte do passado, mas é parte da caminhada deste povo de Goiás.
A Romaria dos Mártires é um momento forte, um espaço privilegiado de formação, de partilha, de conscientização sobre a realidade da Reforma Agrária, da preservação do meio-ambiente e a lembrança dos mártires da caminhada da diocese, uma manifestação de fé e de compromisso que reúne, dois a três mil trabalhadores do campo e da cidade, excluídos da sociedade moderna. Resgatando sua identidade cultural, eles discutem um tema comum e reforçam a luta para uma modificação profunda da realidade social em que vivem, particularmente no meio rural.
Única do gênero realizada no Estado de Goiás, tem entre seus Mártires o sindicalista Nativo da Natividade e o Pe Chicão, nosso mártir vivo, alvejado com um tiro de espingarda e, desde então, cego dos dois olhos.
Histórico da Romaria dos Mártires – Goiás
1ª – 1997 – Realizada na cidade de Mossâmedes, no mesmo local que o Pe. Chicão sofreu o atentado contra sua vida. Naquela Romaria foram lançadas músicas com a temática da Romaria. O Tema era “Aqui as forças da morte não venceram a Vida” e uma placa com esse dizer foi colocada no local. A concentração e o início da Romaria se deu na entrada da cidade de Mossâmedes e depois os 3.000 (três mil) romeiros saíram em caminhada com destino a uma propriedade do meio rural, a 7 km da cidade, onde o Pe. Chicão em 1987 recebeu os tiros em seu rosto. Neste local foi dado continuação a celebração e as apresentações culturais.
2ª – 2002 – aconteceu em agosto, também da Cidade de Mossâmedes, teve como tema “O Sangue dos Mártires Clama por Justiça”, contou novamente com a participação de aproximadamente 3.000 romeiros. A novidade foi que a concentração e a celebração inicial foram no local onde o Pe. Chico sofreu o atentado. Depois os romeiros saíram em caminhada para o centro da cidade, onde se deu prosseguimento à celebração e às apresentações culturais. É bom destacar que nesta Romaria, além do depoimento do Pe. Chicão, pudemos também ouvir os depoimentos das viúvas de Sebastião Rosa da Paz (sindicalista assassinado) e de Nativo da Natividade (sindicalista assassinado).
3ª – 2007 – realizada em 1º de setembro, mantendo a periodicidade do evento, na Cidade de Mossâmedes, e teve como tema “Vidas Pelo Reino e Missão neste chão”, com participação de mais de 3.000 pessoas. Foi o momento de despedida do Pe. Chicão (nosso mártir vivo), por conta de sua volta para a Itália.
4ª – 2010 – realizada em 23 de outubro, na Cidade de Carmo do Rio Verde, em memória dos 25 anos do martírio de Nativo da Natividade, junto com a realização do Dia Nacional da Juventude. Com o tema “O sangue dos Mártires fez a semente se espalhar”, a Romaria teve a participação de 5 mil pessoas. Se iniciou na praça da Matriz, e seguiu pelas ruas num forte momento celebrativo, até a praça ao lado do Sindicato dos Trabalhadores Rurais, onde Nativo foi morto, ali foi realizado o momento final da Romaria. Em seguida, o cantor Zé Vicente fez um show.
A Quinta Romaria dos Mártires seria realizada no município de Mossâmedes, em agosto de 2020, em memória aos 32 anos do martírio do Padre Chicão e 35 anos do martírio de Nativo da Natividade. A definição da Romaria dos Mártires se deu em novembro de 2019, durante a realização da Coordenação Diocesana de Pastoral (que reúne padres, freiras, agentes de pastoral e leigos das diversas comunidades), mas a atividade não foi realizada devido à pandemia de COVID-19.
Diante de tantos desafios atuais, da guinada conservadora nos espaços de poder oficiais e do grande número de assassinatos de camponeses, indígenas e líderes de movimentos sociais em todo país, a Romaria dos Mártires mostra-se atual, pois é espaço de denúncia e anúncio, uma caminhada que guarda as marcas de sangue dos nossos mártires de ontem e de hoje.