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Comitiva da Entraide et Fraternité visita comunidades vítimas de conflitos no interior de Goiás e Tocantins

Famílias quilombolas, atingidas por barragens, acampadas em luta por reforma agrária e indígenas relatam aos representantes da entidade belga as violências vividas em regiões de expansão do agronegócio latifundiário e da mineração nestes estados

por CPT Goiás

Entre os dias 8 e 18 de setembro, uma comitiva formada por quatro representantes da entidade belga Entraide et Fraternité, acompanhados de um cineasta belga, juntamente com um agente da Comissão Pastoral da Terra Regional Goiás e uma representante da Articulação Agro é Fogo, visitaram diversas comunidades acompanhadas pela CPT no interior de Goiás e do Tocantins para conhecer de perto e registrar as realidades vividas por elas.

A visita do grupo belga ocorre por ocasião da construção da Campanha Quaresmal 2023, que terá como tema o Brasil e os desafios enfrentados por comunidades e povos tradicionais para proteção de suas vidas, de seus territórios e dos biomas onde vivem, observando de forma especial o impacto das relações comerciais com a europa sobre estas áreas.

Comitiva irá fortalecer luta de famílias atingidas por barragens

Por ocasião da visita da comitiva aos territórios camponeses, foi realizado em Minaçu o primeiro encontro diocesano de famílias atingidas por barragens. Cerca de 400 pessoas participaram e puderam prestar seus depoimentos sobre os prejuízos ocasionados pela construção das barragens de Cana Brava e Serra da Mesa a mais de 600 famílias, que até hoje não foram devidamente indenizadas.

Relatos comoventes da situação atual de vida dessas famílias foram registrados pela comitiva, que posteriormente também conversou com autoridades, como procuradores do Ministério Público Federal e ex-deputados, que atuaram na época da construção das barragens na defesa das famílias.

Todo este levantamento de informações servirá de base para a atuação da entidade belga em defesa da justa indenização das famílias prejudicadas junto à matriz da empresa belga Engie, responsável pela construção da Usina de Cana Brava.

Cultura e resistência nas comunidades do Cerrado

Durante a rodada de visitas, a comitiva Belga teve a oportunidade acompanhar a IV Festa do Cerrado, organizada por famílias assentadas da reforma agrária e quilombolas, no Distrito de Cana Brava (conhecido como Filó), município de Minaçu (GO), acompanhando momentos de formação e manifestações culturais tradicionais em defesa da vida no bioma Cerrado. Na ocasião, as comunidades também comercializam produtos da agricultura familiar, mostrando os resultados da resistência agroecológica contra os agrotóxicos e a destruição de nossa Casa Comum.

As comunidades quilombolas de Extrema e Levantado, no município de Iaciara (GO), também receberam a comitiva belga com apresentações sua cultura tradicional, sabedorias e manifestações passadas de geração em geração que estão ameaçadas pela expansão do agronegócio latifundiário e da mineração sobre seu território. Os relatos da comunidade, que resiste contra a construção, por parte de mineradora que atua na região, de instalações para a extração de calcário a uma distância de 1500 metros de casas da comunidade Levantado, também foram registrados. A atuação da mineradora pode tornar a vida e a produção de alimentos no território inviável devido o nível de poluição do ar acarretado pela atividade.

A visita da comitiva às áreas 2 e 3 do Acampamento Dom Tomás Balduíno, no município de Formosa (GO), também foi muito impactante para o grupo. Além dos conflitos já em curso, com registro de ameaças de mortes e diferentes formas sabotagens por parte de jagunços de fazendeiros vizinhos, a área 2 acabava de ser atingida por um incêndio criminoso, iniciado por uma queimada provocada em fazenda vizinha dentro do período proibido por decreto. O incêndio já havia sido controlado pelas famílias, mas deixara um grande rastro de destruição: muitas barracas e plantações completamente queimados e instalações para abastecimento da comunidade com água totalmente destruídas. Felizmente, apesar das grandes proporções, o incêndio não feriu ninguém nem tirou nenhuma vida humanas.

O grupo também foram visitou duas aldeias indígenas no município Lagoa da Confusão (TO), registrando o apelo dos povos Krahô e Krahô-canela pela demarcação de suas terras e por condições de manter sua cultura. As famílias indígenas vivem atualmente em situação de abandono, com problemas de acesso à água, educação e infraestrutura para viver com dignidade.

Em Goiânia (GO), a comitiva belga conversou com entidades sindicais e movimentos do campo para entender como estes grupos estão se organizando em relação ao processo de perseguição, de aumento dos conflitos e de paralização da política de reforma agrária desde o golpe que tirou a presidente Dilma Rousseff da presidência da república.

O balanço geral da rodada é muito preocupante e os registros feitos deixam nítidos os prejuízos causados pelo avanço do agronegócio latifundiário e da mineração sobre os territórios camponeses, vulnerabilizando ainda mais povos e comunidades que possuem menos acesso a políticas públicas e a recursos para viver com dignidade. A Entraide et Fraternité presta solidariedade e se compromete atuar por mais apoio às comunidades atingidas por forças que buscam lucrar com a destruição do cerrado.

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