Nossa atuação

CARTA-MANIFESTO DA XI FESTA CAMPONESA Cerrado das Águas, Território de Luta


Às comunidades camponesas de Goiás, Aos povos e nações do Cerrado, Aos movimentos sociais e aliados da causa da terra, As autoridades constituídas, A toda a sociedade,

Neste chão sagrado de Santa Rita do João de Deus, sob o manto verde e as veredas do Cerrado, nós, mulheres e homens do campo, povos da terra, reunidos na XI Festa Camponesa, organizada pela Comissão Pastoral da Terra (CPT) e pelas Comunidades Camponesas da Arquidiocese de Goiânia, elevamos nossas vozes em um só grito: pelo Cerrado vivo, pelas águas livres e por um território de dignidade!

Nosso encontro, mais do que uma festa, é um ato de resistência e de fé. É a celebração da cultura camponesa, que há séculos tece a história desta região com os fios da diversidade, da fé, do trabalho e da comunhão. Aqui, a catira, o forró pé-de-serra ecoa nossa alegria, o caldeirão comunitário alimenta nossos corpos e nossas almas, a prosa no alpendre fortalece nossos laços e a benção da colheita nos lembra que somos guardiões da Criação. Nossa cultura é a seiva que corre nas entranhas do Cerrado, é a manifestação viva de um povo que se entrelaça com seu bioma.

A vida camponesa é um testemunho de resiliência e sabedoria. É no roçado familiar, na criação de animais soltos, no quintal produtivo e no extrativismo sustentável que garantimos alimento saudável na mesa do povo brasileiro e construímos um modelo de existência em harmonia com a natureza. Nossa vida é pautada pelo ritmo das chuvas, pelo canto dos pássaros, pela fertilidade da terra e pela generosidade das águas que brotam desse nosso berço, o Cerrado, a caixa d’água do Brasil.

No entanto, nosso “Território de Luta” é constantemente violado. O avanço do agronegócio exportador, com seus monocultivos e venenos, a mineração predatória, a grilagem de terras e a especulação imobiliária secam nossas nascentes, envenenam nossos solos, expulsam nossas famílias e ameaçam extinguir a rica socio-biodiversidade do Cerrado. Este modelo de morte, que privilegia o lucro acima da vida, é a maior negação do cuidado com a nossa Casa Comum, como nos convocava o Papa Francisco.

Portanto, nossa festa é também um grito de alerta e um chamado à ação. O desafio de cuidar da Casa Comum é, para nós, uma missão sagrada. Preservar o Cerrado e suas águas não é uma opção, é uma condição para nossa própria sobrevivência física e cultural. Defendemos um projeto de sustentabilidade integral, que una:

· A Sustentabilidade Econômica: Através da agroecologia, da valorização dos produtos da sociobiodiversidade, da garantia de preços justos e da ampliação de políticas públicas de compra da agricultura camponesa, como o PAA e o PNAE.
· A Sustentabilidade Social: Pelo fortalecimento das comunidades, garantindo educação do campo, saúde, assistência técnica adequada e o direito à terra e ao território, combatendo todas as formas de violência e opressão.
· A Sustentabilidade Cultural: Pela valorização e transmissão dos saberes tradicionais, das sementes crioulas, das festas, rezas e modos de vida que nos constituem como povo.

Exigimos e nos comprometemos com:

  1. A demarcação e titulação dos territórios tradicionais e camponeses.
  2. A implementação de políticas efetivas de proteção e recuperação das nascentes e matas ciliares.
  3. O fim do desmatamento, “zero no Cerrado” e a aplicação rigorosa do Código Florestal.
  4. A transição urgente para um modelo agroecológico, livre de agrotóxicos e transgênicos.
  5. O respeito e a garantia dos direitos humanos para todos os povos do campo, das águas e das florestas.

Que Nossa Senhora da Abadia, padroeira do Cerrado, e todos os mártires que irrigaram esta terra com seu sangue, como o saudoso Dom Tomás Balduíno, nos inspirem e fortaleçam na caminhada.

Seguiremos em luta, celebrando a vida, cultivando esperança e defendendo nosso Cerrado das Águas, nosso Território de Luta!

Comissão Pastoral da Terra (CPT) – Goiás e Comunidades Camponesas da Arquidiocese de Goiânia Participantes da XI Festa Camponesa

Rita do João de Deus, Silvânia, Goiás, 06 de setembro de 2025.

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